domingo, 15 de maio de 2016

A Faminta

Vi que o cordeiro-do-deus
dará as coisas dela
a todo mundo 
na fila imensa...

É temeroso nome dela,
aquela que há de comer
todas as vontades de meu povo.
porque seu apetite não tem fundos
porque tempera com sabor de preocupações.
Ela, que tem o folego de sete mil gatos,
e fome setenta vezes sete grande.
O cinza de seus olhos, se espalha
na população e devora sua voz.
Quando ela fala engana,
quando isso acontece,
os enganados se impressionam,
e a luz de sua mente desaparece.
Sua face desloucada se interpretada
como faltas injustificadas.

Indo além o poema é translúdico, e mais,
Importa-se ele com as canções de dor
dos homens pobres, das mulheres humilhadas
dos que tem a tendência de não ter tendências.
Vai asfalto adiante, pela marginal das rodovias
por ora interditadas.

Poemas sempre existiram.
Pesados ou inúteis seguirão nas pichações, 
em rabiscos que gangues fazem
em cima de rabiscos de outras gangues,
em folhetos impressos a xerox.

Depois que a devoradora se for
restarão as calçadas inundadas
com o que sobra da sua fome.
Aos poetas que previam o caos,
mesmas sombras de lembrança
pertencidas a outros proprietários.

Houve promessas de repouso e paz.
Nem mil ruas com pedrinhas de brilhante
servem pra passar tal ira.

Outro dia ainda virá outra vez.
O sol renascerá mais uma vez.
Os poetas profetizarão outra vez.


Viejos comiendo sopa - Goya (1819-1823)