terça-feira, 1 de abril de 2014

Depois de tudo

Um menino sai à rua.
Lê trechos do jornais
expostos na prateleira
suja como sempre.

Uns reclamam da temperatura,
outros das invasões.
Uns reclamam de bombas,
abacaxis e pepinos.
Ainda há os que reclamam
de uma vida chata
como é também chata
a vida de sua cidade.
Dos impostos, copas,
de reis vermelhos e azuis,
do cair nosso de cada dia.

Tudo isso confirma apenas
a insatisfação conhecida há tempos,
de tudo e de todos.

Sua cidadezinha está crescida?
Não se preocupe,
essa é a menor das tragédias,
embora devas considerar
o ocaso das emoções coletivas
e de memórias faltosas.

O menino só reclama de sua memória,
falha como um disco portátil
de uns poucos megabytes.
Se desce as ruas, é porque ela sabe
que esse menino ainda não sabe
decidir a quantas anda o próprio corpo.

No fim, o menino vê nada:
a poesia não pesou e nem valeu.
Não serve pra muita coisa.

depois de tantas discussões
depois de crises nucelares
depois das igrejas celulares
depois de lavadas as mãos

Seu último poema fica preso.
Infância, bolas de meia,
vertigem, medo do escuro.
Tudo isso e mais o que vai
se deletando ao longo dos anos.
Fecha os olhos pela última vez
e inventa versos que julgava saber de cor.

Um comentário:

  1. Véi!
    Que belo lindo verdadeiro e maluco texto.
    Curti o jeito que rolou e como rolou.
    Firme na labuta e pedra na vidraça!
    Abração

    Vinicius

    ResponderExcluir